A TRANSFERÊNCIA
A transferência está presente em todas as relações terapeuta e paciente.
É o conjunto de todas as formas pelas quais o paciente vive com o terapeuta suas questões emocionais, fantasias, conflitos. No entanto, é o que permite ao analista fazer interpretações, pois se relaciona com os objetos internos e visões de mundo do paciente.
Na Neurose de transferência, por exemplo, o paciente vive uma forte carga emocional investida no terapeuta, que sai para fora da sessão e ocupa grande parte do tempo e espaço mental do paciente, povoa a cabeça do paciente, como num estado de encantamento. Porém, cabe ressaltar que o momento da transferência é apenas no setting.
Já na transferência psicótica, o paciente tem uma transferência prematura, logo no início da sessão, que se agarra ao analista de forma muito forte (pertinaz) e na primeira decepção, ele já abandona a análise ou distancia do vínculo (perecível).
Na Psicose de transferência, o paciente não é psicótico, mas ingressa em um estado transferencial tão agressivo e negativo, distorcendo os fatos reais em relação ao analista, que parece se tratar de um psicótico.
O setting faz com que o paciente regrida, e isso só ocorre na situação analítica. Freud dividiu as transferências como sendo positivas (resultantes da pulsão de vida – Eros) e negativas (resultantes da pulsão de morte – Thanatos).
A transferência positiva envolve sentimentos amistosos, de amizade, de trocas de carinho, desejos eróticos sublimados como amor não sexual. O paciente revive com o terapeuta a experiência amorosa, transferindo sentimentos de amor.
No entanto, ela pode aparentar resultar de uma pulsão de vida, porém ser negativa, pois representa uma idealização profunda. Na idealização, a experiência com o objeto mal é tão intensa, que o paciente não consegue se aproximar dele, e usa a idealização como mecanismo de defesa.
Pode tratar-se também de uma recíproca fascinação narcísica, na qual o terapeuta se acha tão bom, que não vê a idealização, na qual o paciente aparenta estar colaborando e tenta mostrar que melhorou, porém não está transferindo positivamente.
Transferência idealizadora ocorre em casos de pacientes muito regredidos, que tentam viver um vínculo primário, quase uma relação simbiótica com o terapeuta.
Já as transferências negativas têm um princípio agressivo, como inveja, ciúme ou rivalidade. Ela pode ser um sinal de que o paciente está desenvolvendo uma relação de confiança em si mesmo, com o analista e o vínculo.
A Transferência especular se dá em pacientes com fixações em etapas primitivas, com carência nas relações mais básicas. O paciente busca na relação terapêutica alguém para suprir essa falta.
Na Transferência erótica observa-se a necessidade de ser amado, compreendido e aceito. Reconhece que o terapeuta dá amor e acolhimento e confunde com a necessidade de contato físico. Deriva da pulsão de vida.
A Transferência erotizada é oriunda da pulsão de morte, envolve fantasias agressivas de controle e poder sobre o terapeuta, e pode aparecer sob a forma de necessidade sexual e amorosa.
Já a Transferência perversa o paciente tenta perverter o setting para modificar as regras.
A transferência não é criada pelo setting, mas o setting facilita o surgimento da transferência.
Isso permite que o paciente viva regressões, inclusive.
A transferência é um diálogo no interior do psiquismo, e permite identificar como o paciente funciona internamente.
Sendo assim, é preciso tomar cuidado com o que se transmite, pois qualquer coisa da pessoa real do terapeuta pode influenciar na transferência.
A CONTRATRANSFERÊNCIA
As contratransferências ocorrem quando o analista é mobilizado a dar uma resposta emocional.
A contratransferência é um fenômeno que pode ocorrer junto à transferência. São os sentimentos inconscientes do paciente que influenciam nos sentimentos inconscientes do terapeuta, ou seja, é a reação do analista ao paciente.
A contratransferência nem sempre é prejudicial, e com técnica pode ser usada como um instrumento para que o paciente tenha experiências fortes.
No entanto, é necessário que o analista esteja atento para entender que nem tudo que ocorre na sessão é transferência do paciente. O analista deve entender que muitas vezes o que ocorre tem a ver com seus próprios sentimentos (no caso, a contratransferência).
A Contratransferência erotizada surge de uma necessidade de controle e poder sobre o paciente. Pode ser confundida como algo sexual.
A Contratransferência somatizada surge de uma resposta corporal ao que o paciente transfere (sentir sono, por exemplo).
Portanto, a contratransferência pode ser usada na terapia na medida em que o analista entende como se sente e usa isso para analisar e interpretar. Quando a contratransferência é percebida, ela pode ser um meio não verbal de se comunicar com o paciente, ajudando o analista a compreendê-lo.
CONCLUSÃO
Os fundamentos psicanalíticos e os conceitos apresentados nesse trabalho, tendo por base os trabalhos de Sigmund Freud e David E. Zimerman, suscitam grande relevância por apresentarem de forma técnica alguns fundamentos essenciais na relação terapeuta e paciente.
Nesse trabalho ressaltou-se a importância do terapeuta, antes de assumir a responsabilidade formal junto ao paciente para uma análise psicanalítica, evidenciar os princípios éticos e deixar claras as etapas técnicas necessárias para o desenvolvimento do tratamento.
Apresentou os conceitos e definições de contrato. o setting. as resistências. a transferência e a contratransferência.
A hipótese levantada, de que a dicotomia paciente e terapeuta devem ser superadas mediante a internalização do setting, sua significação mediante o contrato analítico e a real compreensão das resistências, da transferência e da contratransferência, foram confirmadas, abrindo espaço para discussões futuras.
Foi demonstrado que as Técnicas Psicanalíticas desenvolvidas por Freud e aprimoradas por Zimerman, colaboram para disseminar os fundamentos psicanalíticos da contemporaneidade.
Para tanto, foi utilizada a pesquisa bibliográfica como aporte metodológico.
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